Dia internacional destaca evolução e importância da engenharia biomédica no Brasil

Data celebra avanços tecnológicos e reforça a contribuição da tecnologia para a saúde brasileira

O Dia Internacional da Engenharia Biomédica, lembrado em 5 de dezembro, destaca o impacto da área no desenvolvimento de tecnologias que aprimoram diagnósticos, terapias e a qualidade de vida da população. A ocasião ganha relevância no Brasil, onde pesquisas, equipamentos e soluções digitais vêm ampliando a capacidade de resposta do sistema de saúde e apoiando inovações que chegam à prática clínica e à rede pública.

No país, a história da engenharia biomédica se relaciona diretamente com a criação da Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB), em 1975, durante o III Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica, no Rio de Janeiro. A entidade foi fundada para reunir pesquisadores, docentes e profissionais em uma comunidade científica organizada e passou a representar o Brasil em espaços nacionais e internacionais, promovendo eventos e iniciativas voltadas ao avanço da pesquisa e da inovação em saúde.

Contribuições científicas e tecnológicas da área

Nas últimas décadas, a engenharia biomédica acompanhou e impulsionou o avanço tecnológico na saúde. Áreas como inteligência artificial, impressão 3D, robótica, biomateriais, telemedicina e nanotecnologia abriram caminho para novas formas de prevenir, diagnosticar e tratar doenças, tornando dispositivos médicos mais seguros, conectados e capazes de monitorar pacientes em tempo real.

“Nos últimos anos, testemunhamos um crescimento e a consolidação da Engenharia Biomédica como pilar estratégico para o futuro da saúde brasileira. Partimos de um campo essencialmente técnico e de suporte, para atuação como agentes protagonistas da inovação”, afirma Sônia Maria Malmonge, presidente da SBEB.

Essas transformações aparecem tanto em equipamentos hospitalares quanto em soluções digitais usadas no cotidiano. Dispositivos vestíveis permitem acompanhar sinais vitais e doenças crônicas à distância; algoritmos de inteligência artificial apoiam a interpretação de exames de imagem; enquanto plataformas de telemedicina e prontuários eletrônicos ampliam o acesso ao atendimento especializado. Em paralelo, tecnologias como as dos biomateriais, bioengenharia de tecidos e impressão 3D avançam na produção de próteses, órteses, modelos anatômicos e terapias mais personalizadas.

“Engenheiros biomédicos estão hoje no núcleo de startups, centros de pesquisa e indústrias nacionais, criando soluções desde softwares de diagnóstico por IA até dispositivos médicos acessíveis e biossensores avançados”, explica a presidente.

Contribuições para a área

Nos últimos anos, a Engenharia Biomédica alcançou avanços importantes que consolidaram a área como estratégica para o país. Um dos marcos significativos foi o reconhecimento oficial da profissão pelo sistema CREA/CONFEA, com a criação do título de Engenheiro Biomédico. A regulamentação representou um passo para dar segurança jurídica à atuação dos profissionais, fortalecer a identidade da categoria e ampliar sua presença em instituições de saúde, pesquisa e indústria. Esse resultado é fruto da mobilização contínua de especialistas, apoiada por entidades como a SBEB.

Outro avanço está na formação. O número de cursos de graduação e pós-graduação aumentou, ao mesmo tempo em que a qualidade das formações se tornou mais robusta e interdisciplinar. Paralelamente, a comunidade científica se expandiu. A SBEB e os eventos científicos da área passaram a atuar como importantes pontos de encontro, favorecendo a troca de conhecimento, a construção de redes profissionais e o fortalecimento da cultura de inovação.

A pandemia de Covid-19 também marcou a trajetória da Engenharia Biomédica. Em meio ao maior desafio sanitário das últimas décadas, a atuação dos profissionais ganhou visibilidade ao garantir o funcionamento de ventiladores, UTIs e equipamentos de diagnóstico, além de apoiar o desenvolvimento de soluções emergenciais em tempo recorde. Esse período evidenciou à sociedade que, por trás das tecnologias que sustentam o cuidado hospitalar e salvam vidas, há o trabalho dos Engenheiros Biomédicos.

Uma celebração importante

Reconhecer o Dia Internacional da Engenharia Biomédica significa valorizar o papel estratégico da área para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. A celebração dá visibilidade ao trabalho dos engenheiros biomédicos e na qualificação dos serviços de saúde, incluindo o fortalecimento do SUS.

Ao trazer o tema para o centro do debate, a comemoração aproxima sociedade, formuladores de políticas públicas e setor produtivo das discussões sobre inovação em saúde. A SBEB tem utilizado esse momento para reafirmar a engenharia biomédica como campo central na interface entre ciência, tecnologia e cuidado, fortalecendo sua presença na formação de profissionais e na agenda de inovação do país.

“Essa data ressalta a fundamental contribuição de nossa área para o avanço da qualidade e equidade da saúde, da ciência e do bem-estar da sociedade. A capacidade de inovar, adaptar e buscar soluções tecnológicas para os problemas que desafiam a  saúde  mostra-se mais vital do que nunca”, afirma Sônia

Desafios para ampliar a inovação

Mesmo com avanços importantes, transformar conhecimento científico em soluções disponíveis em larga escala para a população, ainda possui barreiras. “Há um abismo entre a excelência da pesquisa nas universidades e a transformação dessas descobertas em produtos no mercado. Precisamos encurtar este caminho com políticas públicas mais ágeis de fomento à Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), além de atrair mais investimento, especificamente para HealthTechs”, adverte Sônia.

Processos regulatórios longos e pouco adaptados a tecnologias emergentes — como inteligência artificial aplicada à saúde e softwares médicos — retardam a chegada de inovações ao mercado e podem desestimular startups e pequenas empresas. “Buscamos um ambiente regulatório moderno, ágil e previsível, que proteja o paciente sem asfixiar a criatividade e a chegada rápida de soluções novas ao sistema de saúde”, afirma a presidente.

Os mecanismos de avaliação e incorporação de tecnologias ao SUS e à saúde suplementar carecem de maior previsibilidade, o que dificulta o planejamento de investimentos de longo prazo. Ao mesmo tempo, a oferta limitada de recursos estáveis para inovação em saúde e a pressão por resultados imediatos reduzem o espaço para testar e validar novas soluções em hospitais, operadoras e serviços públicos.

O ecossistema de inovação em saúde também costuma atuar de forma fragmentada, dificultando transformar projetos acadêmicos em produtos escaláveis e acessíveis. Problemas de infraestrutura digital, como sistemas desatualizados, pouca interoperabilidade e conectividade limitada, somados a preocupações com segurança, privacidade e governança de dados, restringem o uso mais amplo de prontuários eletrônicos integrados, telemedicina e análise avançada de dados.

Segundo Sônia, um dos pontos críticos é preparar profissionais para o ecossistema de inovação. “Precisamos formar engenheiros biomédicos não apenas com sólida base técnica e clínica, mas também com mentalidade empreendedora, conhecimento em gestão de projetos de inovação, regulação e negócios”, ressalta.

A dependência de dispositivos médicos importados e a capacidade produtiva limitada em áreas estratégicas também ampliam a vulnerabilidade do país em muitos momentos.

Perspectivas e futuro da área

Para a SBEB o avanço da Engenharia Biomédica no Brasil depende da integração entre pesquisa, indústria e governo, uma cooperação considerada central para transformar conhecimento científico em soluções aplicáveis ao sistema de saúde. Criar redes sólidas entre esses três setores ainda é um desafio cultural e estrutural, mas representa um passo que pode acelerar a inovação no país. 

Para favorecer essa aproximação, a Sociedade promove debates e ações que reúnem representantes de diferentes áreas, marcando presença em ambientes estratégicos, como a Feira Hospitalar e eventos voltados à inovação em tecnologias para a saúde.

Recentemente, a entidade, em parceria com a empresa Boston Scientific, realizaram a cerimônia do Prêmio de Inovação em Engenharia Biomédica para o SUS no Senado Federal, reforçando seu papel institucional na articulação com o poder público e ampliando o diálogo entre academia, setor produtivo e gestores governamentais.

A Sociedade avalia que o futuro da Engenharia Biomédica no Brasil coloca a profissão em uma posição central na transformação digital da saúde. “Seremos [os engenheiros biomédicos] os arquitetos fundamentais da transformação digital da saúde seja desenhando hospitais inteligentes, integrando dados de wearables e prontuários eletrônicos com IA para medicina preditiva ou criando a infraestrutura tecnológica de uma saúde verdadeiramente conectada e centrada no paciente”, afirma Sônia.

Essa combinação de conhecimento clínico, domínio tecnológico e capacidade de trabalhar com dados posiciona a área no núcleo das grandes mudanças que devem marcar os próximos anos.

A entidade também enxerga espaço para que o Brasil se torne referência global na criação de tecnologias de saúde acessíveis e sustentáveis. A experiência acumulada no SUS, aliada à criatividade e à habilidade de propor soluções de alto impacto com recursos otimizados, abre caminho para que o país desenvolva dispositivos de baixo custo, plataformas de telemedicina eficientes e ferramentas voltadas à saúde pública com potencial de adoção internacional. 

“A SBEB busca ser uma plataforma cada vez mais dinâmica para divulgar a engenharia biomédica e fortalecer nossa comunidade nacional; Incentivar a formação de excelência, a pesquisa e a inovação; Promover e fortalecer a conexão  entre academia e os demais setores que integram o ecossistema de inovação em tecnologias para a saúde”, conclui Sônia.

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