Cinco décadas da SBEB ajudam a estruturar a engenharia biomédica no Brasil

Trajetória da Sociedade acompanha a consolidação da área e sua inserção estratégica na saúde

A Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB) completa 50 anos em 2025 com uma trajetória diretamente ligada à consolidação da engenharia biomédica no Brasil. Criada em um período em que a área ainda se estruturava no país, a entidade contribuiu para organizar a produção científica, fortalecer a formação de profissionais e articular o diálogo entre universidades, serviços de saúde, indústria e poder público. Ao longo de cinco décadas, essa atuação ajudou a transformar um campo emergente em uma área estratégica para o desenvolvimento de tecnologias em saúde.

Fundada em 18 de dezembro de 1975, no Rio de Janeiro, a SBEB surgiu da necessidade de reunir pesquisadores, docentes e profissionais que já atuavam de forma dispersa em engenharia biomédica. A criação da Sociedade coincidiu com a estruturação dos primeiros programas de pós-graduação na área e com o aumento da demanda por soluções tecnológicas aplicadas à saúde, em um contexto de expansão do sistema científico nacional.

“Significa que a engenharia biomédica no Brasil vem crescendo e se estabelecendo como uma área de atuação estratégica para a saúde no país”, afirma Sônia Maria Malmonge, presidente da SBEB. Segundo ela, o papel da Sociedade foi, desde o início, criar um espaço de convergência capaz de dar identidade à área e apoiar seu desenvolvimento de forma contínua.

Da fundação à organização científica

Desde seus primeiros anos, a SBEB passou a atuar como um espaço permanente de organização da comunidade científica. Ao reunir diferentes especialidades da engenharia biomédica sob uma mesma instituição, a Sociedade contribuiu para a construção de uma agenda comum voltada ao avanço da ciência e da tecnologia em saúde no Brasil.

Um dos marcos desse processo foi o fortalecimento da produção científica nacional. Em 1982, a SBEB lançou o primeiro número da Revista Brasileira de Engenharia Biomédica, que mais tarde passaria a se chamar Research on Biomedical Engineering (RBE). O periódico tornou-se um dos principais veículos da área na América Latina, ampliando a visibilidade da pesquisa desenvolvida no país e contribuindo para a internacionalização da engenharia biomédica brasileira.

Além de divulgar resultados científicos, a revista ajudou a estabelecer padrões de qualidade editorial e rigor metodológico, fundamentais para a maturidade do campo. Para marcar o cinquentenário da entidade, a SBEB prepara a publicação de um número especial da RBE, previsto para 2026, reunindo trabalhos que refletem a evolução da área ao longo das últimas décadas.

Outro eixo central dessa organização foi a consolidação do Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica (CBEB). Realizado de forma bienal, o evento se tornou o principal encontro científico da área no país, reunindo pesquisadores, estudantes e profissionais de diferentes regiões. A circulação do congresso por diversos estados contribuiu para a descentralização da engenharia biomédica, fortalecendo polos regionais e ampliando o alcance da área para além dos grandes centros acadêmicos.

Para Sônia Malmonge, a preparação de cada edição do CBEB atua como um catalisador de integração. “O congresso mobiliza pesquisadores, estudantes e profissionais de todas as regiões, promovendo trocas que dificilmente ocorreriam de outra forma”, explica. 

A 30ª edição está prevista para setembro de 2026, em Fortaleza, e integra a agenda comemorativa dos 50 anos da Sociedade. “Um dos aspectos mais importantes da Sociedade, pensando nas pessoas, é a realização do congresso bienal, que faz esse vínculo acontecer”, afirma Eduardo Tavares Costa, ex-presidente da SBEB.

Formação profissional e reconhecimento institucional

A atuação da SBEB sempre esteve associada à formação de recursos humanos. À medida que os cursos de graduação e pós-graduação em engenharia biomédica se expandiram no Brasil, a Sociedade passou a contribuir com debates sobre referenciais curriculares, competências essenciais e alinhamento entre a formação acadêmica e as demandas reais do sistema de saúde.

Esse diálogo ajudou a qualificar a formação dos profissionais e a aproximar estudantes dos desafios práticos da área, como o desenvolvimento de dispositivos médicos, sistemas de diagnóstico, tecnologias assistivas e soluções digitais em saúde. Iniciativas voltadas à participação estudantil, como apoio a eventos, premiações e ações de divulgação científica, tornaram-se parte da estratégia da entidade para estimular novas gerações.

“O amadurecimento da área ao longo desses 50 anos permitiu a consolidação de programas de pós-graduação com pesquisas de grande relevância, o que hoje se reflete no surgimento de startups e healthtechs. Esse processo também viabilizou a criação dos cursos de graduação em engenharia biomédica, que têm se mostrado uma carreira promissora no país”, destaca a presidente da SBEB.

Outro avanço importante foi o reconhecimento formal da engenharia biomédica como profissão. A SBEB participou de mobilizações técnicas e institucionais que contribuíram para o reconhecimento do título de engenheiro biomédico criado pelo  sistema CONFEA/CREA, estabelecendo atribuições e responsabilidades profissionais. Esse reconhecimento trouxe maior segurança jurídica, fortaleceu a identidade da categoria e ampliou a presença desses profissionais em hospitais, empresas de dispositivos médicos, centros de pesquisa e órgãos públicos.

Inovação, regulação e impacto em saúde

Com o amadurecimento da engenharia biomédica no Brasil, a atuação da SBEB passou a ir além da organização científica e da formação. Nos últimos anos, a entidade intensificou ações voltadas ao estímulo à inovação tecnológica em saúde, aproximando pesquisa acadêmica, setor produtivo e gestores públicos.

Prêmios, desafios de inovação e atividades integradas a grandes eventos do setor passaram a fazer parte dessa agenda, com foco na transformação do conhecimento científico em soluções aplicáveis, especialmente para o Sistema Único de Saúde (SUS). Ao promover espaços de diálogo entre universidades, empresas e órgãos governamentais, a Sociedade contribuiu para reduzir a distância entre o desenvolvimento tecnológico e o uso prático das inovações. “Temos buscado trabalhar a SBEB como um grande hub, que conecta academia, indústria, mercado e governo”, afirma Fernando Sales, diretor administrativo da Sociedade.

A SBEB também ampliou sua presença em debates regulatórios e de políticas públicas, acompanhando discussões sobre avaliação de tecnologias em saúde, incorporação de dispositivos médicos e financiamento à ciência e à inovação. De acordo com Sônia Malmonge, o diálogo com órgãos como a Anvisa e o Ministério da Saúde tem sido fundamental para esclarecer profissionais sobre exigências regulatórias e apoiar um ecossistema de inovação mais consistente e responsável.

Paralelamente, a entidade investiu na modernização de seus canais de comunicação, com newsletters, webinários e maior presença digital, ampliando o alcance das discussões e aproximando a engenharia biomédica da sociedade.

Perspectivas para os próximos anos

Nos anos mais recentes, a SBEB passou por um processo de modernização institucional. Entre as mudanças estão a revisão do Estatuto e do Regimento em 2024, a simplificação das categorias de associação, a adoção de uma plataforma digital de gestão de associados e a criação de diretorias e comissões assessoras voltadas a áreas estratégicas, como Eventos, Relações Institucionais e Inovação.

A Sociedade também iniciou um processo de rebranding, que atualiza sua identidade visual sem romper com a trajetória construída ao longo de cinco décadas. A nova marca reflete o amadurecimento institucional da entidade e sua intenção de ampliar o diálogo com diferentes atores, como indústria, governo e sociedade civil, mantendo o papel de elo entre tecnologia, saúde e inovação.

Em um cenário marcado por desafios crescentes na saúde, a trajetória da Sociedade indica que a articulação entre conhecimento, inovação e políticas públicas seguirá sendo central para ampliar o acesso a tecnologias e qualificar o cuidado em saúde no país.

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