Trabalho multidisciplinar da área demonstra o poder da inovação brasileira no enfrentamento de desafios em saúde
O Dia do Engenheiro, celebrado em 11 de dezembro, nasceu como uma data de reconhecimento à profissão responsável por projetar estruturas, sistemas e tecnologias que sustentam a vida moderna. No Brasil, a comemoração se consolidou a partir da regulamentação da engenharia na década de 1930 e acompanhou a criação do sistema Confea/Crea e a expansão das primeiras escolas de engenharia. Com o tempo, deixou de ser apenas um momento corporativo e passou a envolver debates sobre desenvolvimento, inovação e o papel desses profissionais nas políticas públicas e na vida cotidiana da população.
Nesse contexto, a engenharia biomédica surgiu como uma das áreas que ganharam relevância social. Trata-se de um campo multidisciplinar que combina fundamentos de engenharia, ciências da vida e tecnologia para criar soluções aplicadas à saúde. O engenheiro biomédico atua em diferentes etapas do cuidado — da prevenção ao diagnóstico, do tratamento à reabilitação , além de atuar na gestão de equipamentos — com impacto direto na qualidade de vida das pessoas e na eficiência dos serviços de saúde.
Engenharia e saúde
A evolução da celebração reflete as mudanças do país. Inicialmente marcada por solenidades internas e homenagens ligadas à regulamentação da carreira, a data ganhou visibilidade à medida que a industrialização avançou, novas escolas de engenharia foram criadas e a profissão passou a atuar em áreas cada vez mais amplas — incluindo a saúde. Universidades, conselhos profissionais e entidades de classe passaram a promover semanas temáticas, palestras e campanhas que aproximaram o debate da sociedade.
Nesse movimento, a engenharia biomédica se consolidou como ponte entre o conhecimento técnico e as demandas do sistema de saúde. O trabalho desses profissionais sustenta o desenvolvimento de equipamentos de imagem, testes rápidos, sistemas de monitorização e ferramentas de inteligência artificial que apoiam decisões clínicas e administrativas. Em hospitais, participam da especificação, instalação, calibração e manutenção de aparelhos críticos, reduzindo falhas, eventos adversos e desperdícios, contribuindo para um uso mais seguro e racional das tecnologias médicas.
A atuação ultrapassa o ambiente hospitalar. Engenheiros biomédicos desenvolvem soluções para ampliar o acesso a serviços — como dispositivos portáteis, sensores vestíveis, sistemas para telessaúde e plataformas de monitoramento remoto — que permitem acompanhar pacientes em regiões afastadas, apoiando o Sistema Único de Saúde (SUS). Também contribuem para a reabilitação e a inclusão, com próteses, órteses e interfaces que promovem a autonomia – por meio de tecnologias assistivas.
Essa combinação de conhecimentos, que envolve matemática, física, biologia, computação, gestão e regulação, evidencia a natureza multidisciplinar da profissão. Assim, a engenharia biomédica se torna um campo estratégico para políticas públicas de inovação em saúde, apoiando desde a incorporação de tecnologias até o desenvolvimento de soluções adaptadas à realidade brasileira.
Evolução durante a crise
A pandemia de COVID-19 tornou ainda mais visível o papel do engenheiro biomédico no funcionamento do sistema de saúde. A necessidade de montar rapidamente estruturas de atendimento, ampliar leitos, instalar novos equipamentos e garantir a operação contínua de aparelhos de suporte à vida exigiu uma atuação intensa desses profissionais. Desde a configuração de monitores multiparamétricos e ventiladores mecânicos até a checagem de sistemas de climatização, pressão negativa e controle de umidade em unidades de isolamento, a engenharia biomédica esteve presente nos bastidores de decisões técnicas que salvaram vidas.
Além disso, a crise sanitária impulsionou o desenvolvimento e a fabricação de novos dispositivos de suporte respiratório, muitas vezes com linhas de produção adaptadas em tempo reduzido. Neste cenário, os engenheiros biomédicos atuaram na busca por soluções de menor custo, na adaptação de tecnologias já existentes e na validação de protótipos capazes de atender à alta demanda. A pandemia também evidenciou o potencial da área na análise de dados e na modelagem epidemiológica — ferramentas de apoio à decisão e plataformas de teleatendimento passaram a integrar a rotina de muitos serviços, reforçando o papel da engenharia biomédica em uma saúde mais conectada, preditiva e preventiva.
Formação e inovação em saúde
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB) atua como uma das principais articuladoras desse ecossistema. A entidade reúne pesquisadores, docentes, estudantes e profissionais que trabalham na interface entre a engenharia e a saúde, apoiando iniciativas de inovação tecnológica, formação especializada e diálogo com o poder público.
Entre as ações estruturantes estão o incentivo à pesquisa aplicada e a projetos voltados ao SUS, a organização do Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica (CBEB), ao BioChallenge Brasil — organizado pelo Inatel com o apoio da Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB), é um evento que integra estudantes apaixonados por tecnologia e saúde, estimulando-os, por meio de uma competição de âmbito nacional, a desenvolver soluções para problemas da saúde, a realização de ideathons — maratonas curtas de geração de ideias inovadoras — e a participação em grandes eventos do setor, como a Feira Hospitalar, em que temas como regulação, boas práticas em gestão de tecnologias e parcerias com o setor produtivo são debatidos de forma integrada.
Essas iniciativas aproximam universidades, hospitais, empresas e órgãos reguladores, criando um ambiente mais favorável à inovação. A SBEB também está envolvida na discussão de referenciais curriculares e na integração de estudantes aos desafios reais da saúde pública, contribuindo para a formação de profissionais capazes de lidar com aspectos técnicos, éticos e regulatórios da inovação.
Em paralelo, a sociedade defende o fortalecimento do financiamento à ciência e tecnologia, como a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), e participa de debates sobre transformação digital, inteligência artificial, internet das coisas e uso de grandes bases de dados em saúde.