Tecnologias como inteligência artificial, exames moleculares e imagens de alta resolução estão transformando a detecção e o tratamento da doença
O Novembro Azul é uma campanha voltada à conscientização sobre a saúde do homem, com ênfase especial no câncer de próstata. A doença, bastante prevalente entre homens acima de 50 anos, pode evoluir silenciosamente. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são registrados mais de 70 mil novos casos por ano no Brasil. Quando o diagnóstico ocorre nas fases iniciais, as chances de cura aumentam de forma significativa.
Apesar disso, muitos homens ainda adiam consultas médicas, seja por receio, desinformação ou preconceito em relação a exames como o toque retal. Essa resistência contribui para o diagnóstico tardio e, consequentemente, para maior risco à saúde. Superar essas barreiras é fundamental para que as medidas preventivas sejam eficazes. Nesse cenário, o acesso a informações confiáveis e a exames menos invasivos tem sido um aliado importante para mudar percepções e incentivar o cuidado.
Tecnologia biomédica aprimora diagnóstico
Nos últimos anos, os avanços em Engenharia Biomédica têm permitido o desenvolvimento de tecnologias que tornam o diagnóstico do câncer de próstata mais preciso, rápido e adaptado ao perfil de cada paciente.
No Brasil, a Engenharia Biomédica tem atuado na interface entre pesquisa, clínica e tecnologia, desenvolvendo soluções que ampliam o acesso ao diagnóstico e reduzem desigualdades regionais. A Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB) incentiva essa integração entre universidades, centros de pesquisa e o sistema de saúde, promovendo inovações que tornam exames mais seguros, acessíveis e precisos.
Entre as principais inovações está a ressonância magnética multiparamétrica (RMmp). Diferente da ressonância convencional, ela combina diferentes tipos de imagem — anatômicas e funcionais — para distinguir com maior clareza as áreas suspeitas na próstata. Quando associada a softwares de fusão que integram as imagens da ressonância ao ultrassom, a técnica oferece uma visualização detalhada do órgão. O uso do sistema PI-RADS, que classifica as lesões segundo convenções internacionais, ajuda a padronizar os laudos e reduz a necessidade de biópsias em casos duvidosos.
Além disso, pesquisas em biomarcadores moleculares e genéticos vêm ampliando a capacidade de identificar tumores mais agressivos. Esses marcadores são moléculas — como proteínas ou fragmentos de DNA — presentes no sangue ou na urina, que indicam alterações específicas nas células da próstata. Testes como PHI, 4Kscore, SelectMDx e PCA3 avaliam a expressão gênica e proteica do paciente, oferecendo dados individualizados sobre o risco de progressão da doença. Assim, os médicos conseguem decidir com maior precisão quando intervir ou adotar apenas o acompanhamento clínico.
Outro campo em rápida expansão é o uso da inteligência artificial (IA) na interpretação de exames. Sistemas de IA são treinados com milhares de imagens médicas para reconhecer padrões sutis que podem escapar à análise humana. Na prática, isso aumenta a objetividade na classificação de tumores e apoia o planejamento terapêutico, tornando o diagnóstico mais confiável e reprodutível.
Essas tecnologias se inserem no conceito de medicina de precisão, em que dados clínicos, genéticos e de imagem são integrados para orientar condutas personalizadas. Ao contribuir para diagnósticos mais precoces e certeiros, a Engenharia Biomédica reforça o equilíbrio entre vigilância, intervenção e qualidade de vida. Exames mais acessíveis e menos invasivos também ajudam a reduzir a resistência masculina ao rastreamento preventivo.
Fatores de risco e cuidados preventivos
A idade é o principal fator de risco para o câncer de próstata: mais de 90% dos casos ocorrem em homens acima dos 55 anos. Histórico familiar — especialmente em parentes de primeiro grau diagnosticados precocemente —, obesidade e maior incidência entre homens negros também elevam a probabilidade de desenvolvimento da doença. Para esses grupos, recomenda-se iniciar o acompanhamento médico a partir dos 45 anos.
Embora não exista um método único de prevenção, adotar hábitos saudáveis pode reduzir significativamente o risco. Alimentação equilibrada, prática regular de atividades físicas, controle do peso, não fumar e evitar o consumo excessivo de álcool são atitudes que contribuem para a saúde geral e para a prevenção do câncer. Exames como o PSA (Antígeno Prostático Específico) e o toque retal devem ser discutidos com o médico, que orientará o momento e a necessidade de realizá-los conforme o perfil individual.
O tratamento varia de acordo com o estágio da doença. Pode incluir vigilância ativa — em que o médico apenas monitora o tumor — ou procedimentos como cirurgia, radioterapia e uso de medicamentos. Tecnologias recentes, como testes genéticos e biomarcadores, têm ampliado a capacidade de personalizar essas decisões, reduzindo efeitos colaterais e preservando a qualidade de vida.
Entre os sintomas do câncer de próstata, quando aparentes, podem ocorrer dificuldade para urinar, jato fraco, aumento da frequência urinária, dores ósseas ou presença de sangue na urina — principalmente em estágios mais avançados. Por ser assintomático nas fases iniciais, reforça-se a importância do acompanhamento periódico, mesmo na ausência de sinais aparentes.