Engenharia Biomédica impulsiona novas soluções para desafios do SUS

Representantes da SBEB e vencedores reforçam impacto social das tecnologias premiadas no Prêmio de Inovação em Engenharia Biomédica para o SUS

A Cerimônia do Prêmio de Inovação em Engenharia Biomédica para o SUS apresentou as tecnologias vencedoras que podem beneficiar a saúde pública em curto e médio prazo, reunindo iniciativas que mostram como a Engenharia Biomédica tem contribuído para ampliar o acesso a soluções de diagnóstico, monitoramento e reabilitação na rede pública. Criado em 2020 pela Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB), em parceria com a Boston Scientific, o prêmio reconhece projetos que unem pesquisa, tecnologia e impacto social, aproximando universidades, profissionais e setor produtivo das demandas do SUS.

A premiação é dividida em duas categorias — acadêmica e Startups — e reúne desde trabalhos de conclusão de curso até modelos de negócio voltados à aplicação direta no sistema público. Neste ano, 73 projetos foram inscritos, “mostrando a força da academia e do empreendedorismo que vem avançando cada vez mais na atuação em inovação de tecnologias para a saúde, com potencial para implementação no SUS”, afirma Sônia Malmonge, Presidente da SBEB.

A cerimônia ocorreu no dia 27 de novembro, no Auditório Senador Antônio Carlos Magalhães, em Brasília. Segundo Sônia, a escolha da capital federal buscou “facilitar as conexões entre Academia, Governo e Indústria, num evento com foco em Inovação em Tecnologias para a Saúde”, incluindo diálogo com parlamentares, membros de órgãos governamentais como MS, MCTI, ANVISA e a apresentação dos projetos vencedores.

Categoria Startup

Os projetos vencedores foram:

IA-Bucal: diagnóstico bucal com inteligência artificial

O primeiro destaque da categoria inovação aplicada foi o IA-Bucal: inovação em diagnóstico bucal por inteligência artificial, desenvolvido pelo pesquisador Francisco Eduardo Meira de Castro Alves, vindo do FEMCA, do Rio Grande do Norte (FEMCA/RN). 

Desenvolvido para enfrentar problemas comuns da saúde bucal pública, a solução transforma um smartphone ou tablet conectado em uma ferramenta de triagem inteligente com IA. “O dentista captura a imagem da lesão e, em segundos, recebe informações clínicas que orientam a decisão”, explica Alves.

A ferramenta ajuda a evitar encaminhamentos desnecessários, agiliza o atendimento de casos graves e organiza o fluxo de pacientes. O sistema também é utilizado para padronizar registros clínicos e reduzir custos associados a diagnósticos tardios.

O funcionamento é simples: o profissional fotografa a lesão e a IA classifica a imagem, indica o diagnóstico mais provável, apresenta alternativas e referências científicas e ainda oferece um chatbot especializado para discussão do caso. A acurácia atual da solução varia entre 75% e 95%, dependendo da lesão analisada.

A tecnologia reconhece desde inflamações e lesões benignas até padrões pré-malignos e malignos, além de alterações em tecidos moles. “Além de diagnosticar, o IA-Bucal ensina, aperfeiçoa o raciocínio clínico e ajuda o dentista a evoluir enquanto atende. A ferramenta eleva a qualidade da saúde bucal pública por meio de inteligência artificial”, afirma Alves.

Com aprovação do Comitê de Ética do Hospital Universitário Onofre Lopes (UFRN), a tecnologia entra em fase piloto para futura avaliação regulatória da ANVISA.

Órteses inteligentes para reabilitação pós-AVC

Outra solução premiada na categoria inovação aplicada foca na reabilitação de pessoas pós-AVC. O projeto Órteses Inteligentes para Reabilitação Pós-AVC via Manufatura Digital no SUS, é liderado por Thabata Ganga, CEO da Limbse Tecnologia Assistiva e doutoranda na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

A iniciativa nasceu a partir de experiências anteriores no programa de extensão Mao3D, um projeto dedicado à produção e distribuição gratuita de próteses, órteses e dispositivos adaptados feitos por impressão 3D. Essa iniciativa atende especialmente crianças e adultos que não conseguem acessar esses recursos pelo SUS. “Essa experiência mostrou, na prática, a importância de desenvolver tecnologias nacionais, acessíveis e conectadas às necessidades reais dos pacientes e do SUS, e foi a base para a criação do próprio laboratório”, afirma Thabata.

O grupo identificou uma dificuldade recorrente: a falta de órteses personalizadas para pessoas pós-AVC na rede pública. Com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), estruturaram um fluxo digital que integra escaneamento 3D, modelagem virtual e impressão 3D, em parceria com instituições do Brasil, Chile e Angola.

O processo começa no serviço de reabilitação, onde o paciente é avaliado e escaneado nas três dimensões. Com esses dados, a equipe cria um modelo digital da órtese, que é impresso em 3D e ajustado presencialmente. O modelo é flexível e pode ser implementado em diferentes realidades do SUS — desde unidades com impressoras próprias até redes apoiadas por centros regionais.

“Depois do AVC, muitas pessoas ficam com fraqueza, espasticidade e dificuldade de movimentar a mão, o punho e o antebraço. As órteses são um recurso importante na reabilitação, pois ajudam a posicionar o membro de forma funcional, prevenir deformidades, facilitar alongamentos, apoiar o treino motor e atividades do dia a dia, sempre em conjunto com fisioterapia e terapia ocupacional”, explica Thabata.

Para a pesquisadora, o projeto mostra que é possível inovar dentro do SUS ao integrar formação profissional, tecnologia nacional e articulação entre universidades, startups e serviços públicos.

Categoria Acadêmica

Na categoria acadêmica, os projetos vencedores foram: 

Detecção de hipertensão arterial por fotopletismografia e IA

A inovação “Detecção de hipertensão arterial usando fotopletismografia e aprendizado de máquina, é de autoria de Douglas Henz, mestrando na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), orientado pelo professor Fábio Pires Itturriet. A proposta usa inteligência artificial para identificar precocemente a hipertensão a partir de sinais coletados por sensores ópticos por meio da fotopletismografia, que, segundo o professor, é uma técnica óptica não invasiva que usa uma pequena fonte de luz — geralmente um LED verde — e um sensor para medir variações no volume de sangue que circula nos tecidos. 

“Com isso, o algoritmo analisa continuamente os sinais vitais captados por dispositivos vestíveis, como relógios inteligentes, por exemplo, para identificar a doença precocemente, antes que ela se torne crônica”, explica Itturriet. 

Na detecção da hipertensão arterial, essas informações adicionais são fundamentais. Quando a pressão está elevada, a rigidez dos vasos e a resistência ao fluxo se alteram, mudando de forma sutil o desenho da onda registrada pelo sensor. Com apoio de algoritmos de inteligência artificial, é possível identificar esses padrões complexos e apontar sinais precoces da doença. Assim, um sensor simples, presente até mesmo em dispositivos vestíveis, pode se transformar em uma ferramenta de apoio ao diagnóstico clínico.

A equipe desenvolveu um hardware próprio para acessar o sinal bruto, o que aumenta a precisão da análise. O dispositivo também usa o padrão HL7 FHIR (Fast Healthcare Interoperability), um protocolo internacional criado para facilitar a troca de informações entre diferentes sistemas de saúde, favorecendo futura integração com sistemas do SUS.

Acionador automático de Ambu

A inovação “Acionador automático de Ambu para implantação em hospitais”, é de autoria de Lucas Henrique Brito Santos, da Universidade Federal do Pará (UFPA), com o acionador automático de Ambu, criado a partir das necessidades evidenciadas durante a pandemia. “O projeto foi idealizado no cenário crítico da pandemia de COVID-19 pelo Prof. Dr. Marcelo Silva e o Prof. Dr. Wellington Fonseca, quando houve um colapso no sistema de saúde e falta de ventiladores mecânicos no Brasil”, relata Lucas.

A automatização do acionamento do Ambu é possível graças ao sistema pneumático que substitui totalmente o movimento manual realizado por um profissional de saúde. O dispositivo utiliza um conjunto de componentes — como o cilindro que funciona como pistão, válvulas que controlam o avanço e o retorno do movimento e reguladores que ajustam a velocidade — para coordenar a compressão e o relaxamento do reanimador. 

Quando o ar comprimido entra no circuito, essas peças atuam de forma sincronizada, permitindo que o Ambu seja pressionado e volte à posição original de maneira contínua e estável. Assim, o equipamento realiza automaticamente a ventilação que antes dependia de esforço humano, garantindo um fluxo seguro em situações de emergência ou em ambientes com limitações de pessoal.

O desenvolvimento envolveu estrutura em acrílico, sensores, monitoramento automático e um painel digital intuitivo. O resultado é uma solução de baixo custo e robusta, capaz de apoiar equipes em situações emergenciais.

Para impulsionar a inovação

O avanço da Engenharia Biomédica no país depende de um esforço contínuo para aproximar pesquisa, setor produtivo e serviços de saúde. Ampliar investimentos em formação, incentivar parcerias entre universidades e hospitais e fortalecer programas de fomento são os caminhos para acelerar a chegada de novas tecnologias ao SUS. 

“Os desafios são diversos e relacionados à financiamento, avaliação, regulação, translação e incorporação, em particular, no caso da academia, um dos principais desafios está na conexão com os setores produtivos e órgãos governamentais para que os desenvolvimentos possam ser direcionados e aplicados às demandas específicas do SUS”, explica a Presidente da SBEB.

“Se você está trabalhando ou desenvolvendo soluções tecnológicas e inovadoras para problemas que afetam o SUS, conheça e participe do Prêmio Inovação em Engenharia Biomédica para o SUS”, convida Sônia.

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