Equipes Intelimed e Biominds foram premiadas com projetos de tecnologia assistiva que unem inovação, acessibilidade e impacto social
A final nacional do Biochallenge Brasil 2025, realizada em 23 de agosto no campus do Inatel, em Santa Rita do Sapucaí (MG), premiou duas equipes que apresentaram propostas inovadoras para melhorar a qualidade de vida da população idosa. Na categoria presencial, a vitória foi da Intelimed, formada pelos estudantes Diogo Godinho Schwartz, Anderson Luiz da Silva Maciel e Vitor Feijó Leonardo, todos da Universidade de Brasília (UnB). Já na categoria online, o primeiro lugar ficou com a Biominds, integrada por Ana Júlia Batista de Souza, da Universidade Católica de Brasília (UCB), e Kece Line Oliveira, da UnB.
A competição propôs situações-problema baseadas em personagens fictícios construídos a partir de casos comuns do envelhecimento. No caso da modalidade presencial, o casal Campos e Dolores enfrentava dificuldades relacionadas ao esquecimento, quedas e adesão medicamentosa. Já na categoria online, a personagem Dona Benedita, com diabetes tipo 2 e episódios de incontinência urinária, representava desafios recorrentes entre idosos.
Esses cenários serviram de ponto de partida para que os estudantes desenvolvessem soluções tecnológicas voltadas à promoção de autonomia, segurança e inclusão digital na maturidade.
Intelimed: controle inteligente para apoio diário
A Intelimed conquistou o bicampeonato do Biochallenge com a criação do IntelliCare, um controle remoto inteligente que combina funções de lembrete de medicamentos, integração com dispositivos da casa e sensores de segurança, como o de vazamento de gás. O sistema é complementado por um dispenser automático de medicamentos, que organiza as doses e horários de forma precisa, evitando erros e esquecimentos.
Segundo Anderson Luiz da Silva Maciel, a motivação veio de uma experiência pessoal: “Moro com minha avó, que tem demência vascular cerebral, e convivo com as dificuldades que isso traz para ela e para toda a família. O impacto que esperamos não é apenas tecnológico, mas emocional. Queremos oferecer não só conforto, mas paz, reduzindo microfrustrações do dia a dia e melhorando as relações dentro de casa”.
Para Diogo Godinho Schwartz, a proposta se conecta com histórias familiares e com o desejo de ampliar o acesso: “Nossos próprios avós vivenciam problemas de adesão medicamentosa e de acessibilidade tecnológica. O Biochallenge foi a oportunidade de transformar essa realidade em um ecossistema integrado, que vai do lembrete ao acompanhamento remoto, e pode inclusive se conectar a políticas públicas por meio de parcerias com o SUS. Nossa ideia é que, a cada dez dispositivos vendidos, um seja destinado ao sistema público, garantindo alcance também às famílias mais vulneráveis”.
Biominds: hábitos saudáveis e quebra de tabus
A equipe Biominds desenvolveu um aplicativo gamificado que estimula a adesão a hábitos saudáveis, com lembretes personalizados, recompensas virtuais — chamadas Benebits — e interface simplificada. A solução busca apoiar idosos na manutenção de dietas indicadas por nutricionistas, no incentivo à atividade física e no uso correto de medicamentos.
“A dificuldade de manter hábitos é comum em qualquer idade, mas pode ser ainda maior na maturidade. Queremos que o aplicativo seja um aliado, feito especialmente para esse público, com letras grandes, contraste visual e símbolos claros”, explicou Ana Júlia Batista de Souza.
Já Kece Line Oliveira destacou o caráter social da proposta: “Nosso objetivo também é quebrar o tabu de que pessoas idosas não utilizam tecnologia. Além disso, trouxemos à tona questões muitas vezes silenciadas, como a incontinência urinária, mostrando que é algo comum e que pode ser acompanhado com o apoio da tecnologia. É sobre dar visibilidade e normalizar esses temas, sem infantilizar o público”.
A equipe também reforçou que os próximos passos envolvem a transformação da aplicação em um app nativo para Android e iOS, a integração com smartwatches e a validação com mais idosos, para garantir que a usabilidade seja mantida em diferentes perfis.
Contribuição do Biochallenge
Para a organizadora do evento, Luma Rissatti Borges do Prado, professora do Inatel, o diferencial dos projetos premiados foi a empatia: “Os estudantes não apenas propuseram soluções tecnológicas, mas pensaram de forma sensível no público-alvo. A cada edição, percebemos uma evolução, com projetos cada vez mais aplicáveis à realidade”.
Além da visibilidade, a competição oferece apoio prático aos vencedores. Os grupos premiados receberão mentorias de inovação e empreendedorismo da AME e da Equipacare, e ganharam ingressos para o Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica de 2026, em Fortaleza.
Para Sônia Maria Malmonge, presidente da SBEB, o resultado reforça o papel central da área. “A Engenharia Biomédica é fundamental para criar soluções que não apenas tratam problemas de saúde, mas também elevam a qualidade de vida e promovem a autonomia e dignidade de pessoas com dificuldades, em particular, dos idosos. O papel do engenheiro vai além de criar dispositivos, mas sim em desenvolver tecnologias que se adaptem às necessidades específicas de cada pessoa, favorecendo o envelhecimento ativo e saudável”
Próximos passos
Os vencedores já traçam planos para transformar os protótipos em produtos acessíveis. A Intelimed aposta na escalabilidade do IntelliCare, com versões adaptadas a diferentes perfis de usuários e integração a programas públicos de saúde. A Biominds pretende lançar o aplicativo em versões nativas para Android e iOS, além de testar a integração com smartwatches, sempre priorizando a acessibilidade.
A presidente da SBEB também destacou que a entidade pretende apoiar a continuidade dessas trajetórias: “Fiquei muito bem impressionada com a qualidade dos projetos apresentados, pois mostram que os jovens profissionais já conseguem desenvolver soluções para demandas complexas que exigem conhecimento técnico multidisciplinar e, ao mesmo tempo, atuar com empatia e ouvir o usuário final. Com a inscrição para o CBEB 2026, eles terão a oportunidade de ampliar a visibilidade de seus trabalhos, interagir com a comunidade acadêmica, profissionais da indústria e consolidar sua inserção no ecossistema de inovação em saúde”, conclui Sônia.