Inteligência Artificial na saúde: inovação, desafios e o papel da Engenharia Biomédica

Tecnologia revoluciona diagnósticos, personaliza tratamentos e otimiza a gestão hospitalar, mas enfrenta desafios éticos e regulatórios

A Inteligência Artificial (IA) tem revolucionado a prática médica, promovendo avanços na precisão diagnóstica, personalização de tratamentos e otimização da gestão hospitalar. Ferramentas baseadas em IA já são capazes de analisar exames médicos, prever complicações antes que ocorram e melhorar a eficiência dos serviços de saúde. No entanto, o crescimento dessa tecnologia também levanta questões sobre segurança de dados, regulamentação e o impacto da automação na prática clínica.

A Engenharia Biomédica tem sido um dos principais impulsionadores da Inteligência Artificial na saúde, unindo conhecimento das ciências exatas e biológicas para o desenvolvimento de soluções tecnológicas. Segundo a professora e pesquisadora Maria Claudia Ferrari de Castro, do Centro Universitário FEI, a IA está mudando a forma como a medicina atua no diagnóstico e tratamento de doenças. “Antes, o foco estava na doença e no tratamento de quadros já instaurados. Agora, passamos para um modelo preventivo, onde a IA ajuda a prever riscos futuros e personalizar terapias conforme o perfil de cada paciente.”

Com algoritmos capazes de processar grandes volumes de dados, a IA permite que exames sejam analisados com maior precisão e rapidez, além de otimizar a gestão hospitalar. “A automatização da análise de dados reduz erros, agiliza diagnósticos e permite tratamentos personalizados. Além disso, a IA tem otimizado processos de gestão, integrando informações que antes eram trabalhadas de forma manual”, acrescenta a pesquisadora.

Principais aplicações da IA na medicina

A Inteligência Artificial já está presente em diversas áreas da saúde. Uma das aplicações mais relevantes é no auxílio ao diagnóstico, com softwares capazes de interpretar imagens médicas, sinais vitais e exames clínicos, aumentando a precisão na detecção de doenças como câncer, enfermidades cardiovasculares e neurológicas.

Além disso, a IA tem sido amplamente utilizada na gestão hospitalar, melhorando a organização de prontuários eletrônicos, automatizando processos administrativos e otimizando a alocação de recursos. “A IA facilita a análise de dados e melhora a gestão de agendamentos e previsões epidemiológicas, permitindo uma melhor tomada de decisão”, explica Maria Claudia.

Outra área de destaque é a medicina personalizada. Com base na análise de dados genômicos e históricos médicos, a IA permite que tratamentos sejam ajustados conforme as características individuais de cada paciente, tornando as terapias mais eficazes. Sensores vestíveis e sistemas de monitoramento remoto também possibilitam o acompanhamento contínuo de pacientes, enviando alertas automáticos a médicos em caso de anormalidades.

Para Letícia Rittner, professora da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Diretora do Medical Image Computing Laboratory (MICLab), a IA também tem ampliado o acesso à saúde. “Pesquisas já mostram que exames de ressonância magnética podem ser acelerados em até quatro vezes com o uso da IA. Isso significa que um hospital pode atender mais pacientes por dia, democratizando o acesso a essa tecnologia.”

Desafios e limitações da IA na saúde

Apesar do potencial da Inteligência Artificial, sua implementação na área da saúde ainda enfrenta desafios significativos. A aceitação por parte dos profissionais de saúde é um dos principais obstáculos, uma vez que muitos não possuem treinamento adequado para lidar com as novas tecnologias.

Letícia ressalta que a integração da IA deve ocorrer de maneira gradual e complementar à atuação médica. “A IA precisa ser incorporada sem romper práticas tradicionais, servindo como um apoio ao trabalho dos profissionais de saúde. Para isso, é fundamental oferecer capacitação e garantir transparência no desenvolvimento dos algoritmos.”

Outro ponto crítico é a questão dos vieses nos algoritmos de IA. De acordo com Renan Cipriano Moioli, professor do Instituto Metrópole Digital da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), os dados utilizados para treinar essas ferramentas podem refletir desigualdades sociais, o que compromete a equidade no atendimento. “Se os dados forem limitados ou tendenciosos, o algoritmo pode reforçar desigualdades na assistência médica. A melhor forma de minimizar esse problema é contar com equipes multidisciplinares que avaliem constantemente os resultados.”

Além disso, a segurança dos dados dos pacientes é uma preocupação crescente. Embora a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) estabeleça diretrizes para o uso dessas informações, ainda há desafios regulatórios que precisam ser enfrentados. “O consentimento informado e a transparência sobre o uso dos dados são essenciais para garantir que a IA seja aplicada de forma ética e segura”, alerta Moioli.

Regulamentação e ética no uso da IA na saúde

A rápida evolução da IA muitas vezes supera a capacidade dos órgãos reguladores de estabelecer diretrizes claras para seu uso. Fernando José Ribeiro Sales, Diretor Administrativo, da Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB), reconhece essa dificuldade. “Nenhum país conseguiu criar uma regulamentação que acompanhe o avanço da IA na saúde. O Brasil tem uma regulamentação geral de proteção de dados e está tentando legislar sobre o uso da IA. É importante criar ambientes de experimentação (sandboxes regulatórios) para desenvolvermos o uso seguro e inovador da IA no Brasil.”, afirma Sales.

Para ele, o uso da IA na saúde deve seguir princípios éticos que garantam a privacidade dos pacientes e a confiabilidade dos sistemas. “Os dados pertencem aos pacientes, e qualquer aplicação de IA deve garantir consentimento livre e esclarecido, seguindo normas do Código de Ética Médica e da LGPD.”

O potencial da IA na saúde é inegável, mas seu desenvolvimento deve ser acompanhado de regulamentação e controle adequados. “Precisamos garantir que essas tecnologias sejam utilizadas de forma ética e transparente, beneficiando tanto pacientes quanto profissionais de saúde”, destaca Sales.

A SBEB tem incentivado pesquisas e regulamentações que garantam o uso seguro da IA na medicina. A expectativa é que, com o avanço dessas tecnologias, diagnósticos se tornem mais precisos, tratamentos mais eficazes e a gestão hospitalar mais eficiente. No entanto, a implementação dessa revolução digital exige responsabilidade e atenção à segurança, garantindo que seus benefícios cheguem a toda a população.

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