Mulheres na Engenharia Biomédica: desafios, conquistas e perspectivas para o futuro

Iniciativas no Brasil buscam incentivar a participação feminina na área

A Engenharia Biomédica tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento de tecnologias para a saúde, abrangendo desde a criação de dispositivos médicos até soluções inovadoras para diagnóstico e tratamento. Apesar dos avanços da área, a participação feminina ainda enfrenta desafios. Mulheres que se destacam na Engenharia Biomédica apontam a importância da diversidade e da equidade para a inovação e destacam iniciativas que promovem a inclusão no setor.

Historicamente, a presença de mulheres na Engenharia Biomédica tem sido inferior à de homens, especialmente em posições de liderança. A professora Suélia Fleury Rosa, atualmente Senior Lecturer na Cornell University, relata que essa desigualdade se reflete nas estruturas acadêmicas e industriais. “No campus do Gama, na Universidade de Brasília, o curso de Engenharia Eletrônica tinha apenas três mulheres em 15 anos de existência. Hoje, duas estão nos Estados Unidos e apenas uma permanece como professora. Essa é a desigualdade que precisamos debater”, aponta.

Em contrapartida, em outros países, essa realidade é diferente. “No mestrado em Engenharia Biomédica na Cornell University, 60% dos alunos são mulheres. Isso ocorre porque já existe uma conscientização da equidade desde a base”, afirma Suélia.

Desafios enfrentados pelas mulheres no setor

As barreiras enfrentadas pelas mulheres na Engenharia Biomédica estão relacionadas à falta de incentivo desde a infância, à escassez de modelos femininos na área e às dificuldades de ascensão profissional. “Os desafios começam desde a infância, com a falta de estímulo para seguir carreiras científicas, e se estendem até a entrada na pós-graduação”, comenta Monica Matsumoto, professora de Engenharia Biomédica na Divisão de Engenharia Eletrônica do ITA.

A dificuldade de ocupação de cargos de liderança também é um desafio. Monica cita a trajetória da professora Idagene Cestari como um exemplo inspirador. “Tenho como exemplo a Profa. Idagene Cestari, chefe da Bioengenharia do InCor HCFMUSP. Ela foi a primeira mulher presidente da SBEB. O InCor tem um histórico de inovação em Engenharia Biomédica. Por exemplo, foi pioneiro em desenvolver um equipamento de circulação extracorpórea para cirurgias cardíacas”, destaca Monica.

A influência da diversidade na inovação tecnológica

A presença feminina tem impactos positivos na inovação e no desenvolvimento tecnológico. A diversidade de gênero amplia a visão sobre problemas e soluções, tornando os produtos mais inclusivos. “A inovação vem das ideias e do desenvolvimento de produtos, e perspectivas diferentes enriquecem esse trabalho”, destaca Monica. “Por exemplo, um algoritmo ou produto testado apenas em uma população masculina não terá o mesmo resultado para diferentes grupos.”

Várias iniciativas acadêmicas e institucionais têm buscado aumentar a participação feminina na Engenharia Biomédica. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB) tem liderado esforços para garantir maior equidade de gênero. “A SBEB apoia as mulheres na Engenharia Biomédica e busca liderar pelo exemplo, garantindo a presença feminina em todas as suas iniciativas e eventos”, afirma Sônia Malmonge, Presidente da entidade.

Outras iniciativas incluem mentorias, redes de apoio e programas específicos. “No ITA, temos um projeto para incentivar meninas do ensino fundamental e médio a seguirem carreiras em STEM, além de debates sobre os desafios da carreira para as alunas de engenharia”, explica Monica.

Perspectivas para o futuro

A presença feminina na Engenharia Biomédica está crescendo, e as perspectivas são positivas. “Nos últimos anos, a participação das mulheres aumentou significativamente. Empresas e instituições acadêmicas estão adotando políticas para promover equidade de gênero, pavimentando um futuro mais justo e diversificado para a área”, aponta Sonia.

Para que esse avanço continue, é essencial investir em educação, programas de incentivo e políticas públicas que garantam maior inclusão das mulheres na engenharia. Como conclui Suélia, “A mudança de paradigma precisa continuar, e isso se faz com pessoas competentes, coragem e respeito pelo trabalho de quem veio antes.”

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